Em clima de entusiasmo e unidade, a nova diretoria da Fenati (Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação) realizou, no último sábado (26), em São Paulo, sua primeira reunião com os sindicatos filiados. O encontro ocorreu durante o Encontro da Executiva Nacional da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e marcou o início de uma nova fase de expansão, articulação e inovação no sindicalismo da categoria.
“Seguimos estruturando a atuação da Federação por todo o país. É preciso que o movimento sindical se modernize, pare de olhar no retrovisor para encarar o futuro de frente. Esse é o grande desafio que temos. A Fenati segue em processo de ampla expansão e temos conseguido importantes vitórias, como acordos nacionais com empresas do porte da BB Tecnologia e Unisys”, reforça o presidente da Fenati, Emerson Morresi.

“O movimento sindical precisa compreender o tempo em que vivemos. A revolução tecnológica não pode vir acompanhada de retrocesso social e perda de direitos. A Fenati nasce com esse propósito: modernizar sem abandonar a luta. Trazer os trabalhadores de TI para o centro da estratégia sindical, com novas ferramentas, novos canais e uma agenda nacional”, afirma Antonio Neto, presidente da CSB, fundador da Fenati e presidente do Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo).
Com representantes de entidades de diversas regiões do país, a reunião teve como objetivo alinhar estratégias, fortalecer a atuação conjunta, impulsionar a comunicação com a base e consolidar um projeto nacional de unificação das Convenções Coletivas de Trabalho no setor de Tecnologia da Informação. “A unificação das convenções é um caminho sem volta. No Paraná, conquistamos a jornada de 40 horas e vamos lutar para que esse direito se torne nacional. Não podemos aceitar que haja trabalhadores de primeira e segunda classe na TI”, aponta José de Fátima Santos, presidente do Sitepd-PR.

A pauta da reunião incluiu a criação de um projeto de assessoria parlamentar especializada para atuar nas pautas legislativas do setor de tecnologia. “A nova diretoria da Fenati está mostrando que é possível fazer diferente. Estamos falando de atuação estratégica, negociações nacionais, comunicação digital e foco nos direitos reais do trabalhador”, acrescenta Ariston Prestes, presidente do Sintipar-PR.
O desenvolvimento de uma nova rede social sindical, integrada com um sistema de assembleias virtuais e um portal unificado de benefícios para os trabalhadores, também consta no planejamento na Fenati. Lucimar Arruda, presidente do Sindpd-MT, vê esse processo de integração sindical como algo fundamental: “Aqui no Mato Grosso, sentimos a necessidade de estar conectados com uma entidade nacional forte. A Fenati veio para somar e organizar a luta dos trabalhadores de tecnologia no Centro-Oeste”.
A Fenati também tem como um dos seus objetivos centrais o fortalecimento do Sindplay, plataforma de streaming com mais de 140 cursos de qualificação profissional em TI. “A Fenati nos ajuda a ganhar voz. Estamos fortalecendo a base no Sul com mais formação, mais qualificação e, principalmente, mais integração com outras regiões”, acrescenta Fábio Oliveira, presidente do Sindpd-Joinville/SC.

Outro ponto considerado fundamental para o avanço da federação é a construção de acordos nacionais com empresas de tecnologia e a unificação das convenções coletivas por todo o país. Sérgio Luiz Romanholi, ex-presidente e tesoureiro do SPPD-MS, destaca o olhar coletivo da Fenati neste sentido. “A Federação nacionaliza uma pauta que é local, mas que precisa ser vista com olhar coletivo. TI é uma profissão do futuro e precisamos de organização para garantir o presente”. Presidente do Sintinorp-PR, Dirceu Carlos Carneiro complementa: “Temos a chance de reverter a fragmentação do setor e criar um bloco sindical coeso, que fale com todas as regiões. A Fenati é a ponte para isso.”.
“Estamos construindo um movimento sindical inovador, com linguagem atual, digital, mas que mantém a combatividade histórica que sempre marcou os sindicatos da nossa base”, destaca Emerson Morresi, presidente da federação sindical. Leandro Camargos, presidente do Sinttec-MG, segue a mesma linha: “Nosso desafio é levar esse novo sindicalismo para o coração de Minas, conectando os trabalhadores de TI com uma pauta moderna, que fale com a realidade deles. A Fenati tem esse espírito coletivo e avançado.”

Durante a reunião, os presidentes sindicais também destacaram a importância da unidade e da visão estratégica sobre o futuro do trabalho. “A tecnologia muda rápido, mas os direitos não podem ficar para trás. Com a Fenati, estamos mais próximos de uma nova geração de trabalhadores, que precisa se ver representada”, defende Wanderson Alves, presidente do Settaspoc-MG.
“Parabenizo os membros da Fenati pela mudança de olhar em relação ao mundo sindical. Serve para mostrar a nossos representados que estamos ativos e continuaremos a lutar pelos interesses dos trabalhadores da categoria”, acrescenta Felipe Rosell Soria, presidente do Sindpd-RO. A reunião reafirmou a meta da Fenati: construir uma federação moderna, combativa, digital e nacional.

Transição Tecnológica e o futuro do trabalho
A reunião da Fenati se inseriu no contexto do Encontro da Executiva Nacional da CSB, que contou com o painel final sobre os desafios da transição tecnológica para o futuro do trabalho.
O economista e presidente do IBGE, Márcio Pochmann, comparou a transformação tecnológica atual a eventos históricos como a abolição da escravatura e a Revolução de 1930. “Estamos vivendo uma profunda transformação, e o conceito do trabalho da era industrial é insuficiente. Hoje, cerca de 22 milhões de pessoas no país vivem das redes sociais. É um mundo novo, que abre uma agenda de entendermos essa nova realidade”, afirmou.

Pochmann também ressaltou a mudança geoeconômica que tornará o Brasil uma nação bioceânica e alertou sobre desafios demográficos, como a redução da população e o aumento da desigualdade social até 2050. “O movimento sindical precisa se posicionar sobre esses temas”, defendeu.
Victor Pagani, do DIEESE, destacou que a pandemia acelerou transformações nas relações humanas e de trabalho, com perda de autonomia e aumento da intensidade do trabalho sob vigilância digital. “Esse avanço precisa vir acompanhado da divisão da riqueza e do aumento real dos salários”, afirmou.

O sociólogo Clemente Ganz reforçou a importância de incluir os jovens trabalhadores na construção das pautas sindicais, sob o risco de o movimento se tornar irrelevante: “Estamos certos em olhar para o retrovisor, mas se só fizermos isso, o movimento sindical vai sofrer um grave acidente.”
O presidente da CSB, Antonio Neto, denunciou a exploração das plataformas digitais: “O futuro do trabalho passa por enfrentarmos essa exploração disfarçada de modernidade.” E sobre a “pejotização”, afirmou: “Foi uma forma deslavada de proteger o capital, que prejudica o trabalhador e o próprio Estado.”
Neto concluiu com um alerta: “Essa transformação tecnológica passa primeiro pelas nossas cabeças. Precisamos mesclar a experiência com a juventude para formar essa nova geração sindical.”

(Fotos: Divulgação/Fenati/CSB)