Sistemas – Os sistemas de inteligência artificial estão cada vez mais integrados ao cotidiano das empresas, processando grandes volumes de dados, apoiando decisões e oferecendo insights estratégicos. No entanto, a falta de transparência sobre como esses sistemas chegam aos seus resultados tem feito organizações e órgãos reguladores questionarem sua confiabilidade e precisão.
Alguns desses sistemas, especialmente os baseados em aprendizado profundo, fazem previsões e tomam decisões sem explicar o que os levou a essas conclusões. Essa opacidade é conhecida como “caixa-preta” da IA.
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Em muitos casos, os próprios desenvolvedores optam por manter o código-fonte e os processos em segredo para proteger a propriedade intelectual. Exemplos conhecidos incluem o ChatGPT, da OpenAI, o Gemini, do Google, e o Llama, da Meta. Esses modelos funcionam com redes neurais profundas, compostas por centenas ou milhares de camadas interligadas.
Geralmente, uma rede neural é formada por uma camada de entrada, várias camadas ocultas e uma camada de saída. O problema está na falta de explicação sobre o que acontece entre essas camadas quando o sistema executa uma tarefa.
A incerteza sobre o funcionamento interno desses modelos levanta uma questão fundamental: se não sabemos como o sistema opera, como garantir que é seguro? E, em caso de falhas, como consertá-lo sem compreender seus mecanismos internos?
A caixa-preta da IA compromete a confiança porque dificulta ajustes e correções quando os resultados estão incorretos. Além disso, a falta de transparência pode aumentar riscos à segurança, favorecer vieses nos dados de treinamento e gerar violações de leis relacionadas à proteção de dados sensíveis.
Alfabetização em IA e conscientização sobre riscos
O treinamento de conscientização em segurança, conhecido como Security Awareness Training (SAT), aliado a práticas de gestão de risco humano, pode ajudar as organizações a enfrentar os desafios da caixa-preta da IA.
Tradicionalmente, esses treinamentos abordam temas como phishing e senhas seguras. Mas, diante do novo cenário, é essencial incluir conteúdos sobre alfabetização em inteligência artificial. Isso significa ensinar o que é a caixa-preta, quais são seus riscos e de que forma algoritmos podem reproduzir vieses que impactam decisões importantes para o negócio.
É fundamental que os usuários saibam interpretar criticamente as respostas geradas, especialmente em contextos sensíveis, e compreendam que também são responsáveis por reportar comportamentos suspeitos ou inexplicáveis desses sistemas.
Mesmo sendo uma aliada poderosa na automação e produtividade, a IA está sujeita a erros e “alucinações”. Por isso, os treinamentos devem reforçar a necessidade de revisar continuamente os resultados, principalmente em situações que envolvem riscos jurídicos ou danos à reputação e ao desempenho da empresa.
Outro aspecto essencial é lembrar que a inteligência artificial não substitui habilidades humanas como pensamento crítico, empatia e julgamento ético. Essas competências continuam sendo fundamentais para orientar as decisões.
O SAT pode preparar as equipes para identificar sinais de alerta e agir preventivamente. Além disso, os treinamentos devem colocar a ética no centro das discussões, abordando questões como privacidade, segurança de dados, transparência e responsabilidade.
Gestão de risco humano na era da IA
A adoção de IA também traz riscos relacionados ao fator humano, como a dependência excessiva dos sistemas, a reprodução de vieses e a má interpretação dos resultados por falta de conhecimento.
A gestão de risco humano busca equilibrar a tecnologia com a capacidade analítica das pessoas. Criar um ambiente no qual os funcionários se sintam seguros para questionar decisões automatizadas e expressar dúvidas sem medo de punição é fundamental para construir confiança nos sistemas.
É importante também contar com canais eficazes para relatar incidentes, comportamentos inesperados, suspeitas de uso indevido e possíveis vieses nos resultados.
As empresas devem considerar a implementação de um modelo de gestão voltado especificamente aos riscos da IA, incluindo a identificação, o controle e o monitoramento contínuo de falhas técnicas e éticas. Isso envolve auditorias regulares das entradas, resultados e processos decisórios.
(Com informações de Fast Company Brasil)
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