Google impõe retorno ao presencial sob ameaça de demissão
Google – Cinco anos após o início da pandemia de Covid-19, o Google está adotando uma medida considerada por muitos um retrocesso: exigir que funcionários em regime remoto retornem aos escritórios sob risco de demissão, em um movimento que ignora evidências sobre os impactos negativos de políticas coercitivas na qualidade de vida e no bem-estar psicológico.
Documentos da Google revelam que diversas unidades da empresa notificaram colaboradores remotos — inclusive aqueles com autorização formal para home office — de que seus cargos estarão ameaçados caso não adotem um esquema híbrido, com pelo menos três dias presenciais por semana. A decisão ocorre em meio a uma estratégia agressiva de redução de gastos e investimentos em inteligência artificial, setor que consome recursos significativos.
Enquanto empresas de tecnologia tentam reverter políticas flexíveis adotadas durante a pandemia, especialistas alertam que o retorno compulsório ao presencial não apenas falha em garantir ganhos de produtividade, como também representa um passo atrás em conquistas trabalhistas, aumentando o estresse e comprometendo a saúde mental de profissionais que se adaptaram a modelos remotos.
Pressão por produtividade e cortes
As exigências da Google chegam em um momento de contradições: a empresa oferece pacotes de demissão voluntária para funcionários em tempo integral nos EUA, ao mesmo tempo em que investe pesadamente em IA. Desde 2023, cortes seletivos em equipes têm sido justificados pela necessidade de “eficiência”, embora a porta-voz Courtenay Mencini afirme que o trabalho remoto “não foi uma consideração principal” para as demissões.
Em comunicado, Mencini defendeu a medida: “Como dissemos antes, a colaboração presencial é uma parte importante de como inovamos e resolvemos problemas complexos. Para apoiar isso, algumas equipes pediram que funcionários remotos que moram perto de um escritório retornem ao trabalho presencial três dias por semana.”
Em fevereiro, o cofundador Sergey Brin pressionou equipes de IA a trabalharem “60 horas semanais no escritório”, descrito como “o ponto ideal de produtividade” em memorando interno. A exigência, somada à ameaça de demissão, expõe uma cultura corporativa que negligencia o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Funcionários do ‘Google Technical Services’ e da área de Recursos Humanos receberam ultimatos: aderir ao modelo híbrido até abril ou ter seus cargos eliminados. Aos que residem a mais de 80 km de um escritório, é oferecida uma ajuda de custo para mudança — uma solução insuficiente para quem escolheu o remoto justamente para evitar deslocamentos exaustivos ou viver em regiões com menor custo de vida.
A medida é particularmente preocupante em um setor que, durante a pandemia, celebrou a flexibilidade como avanço. “Forçar o retorno sem diálogo é um erro estratégico”, avalia um profissional de RH que preferiu não se identificar. “A pressão por horas presenciais ignora estudos que associam o remoto a maior satisfação e redução de burnout.”
Enquanto o Google direciona bilhões para IA, funcionários enfrentam uma política que muitos classificam como autoritária. Rick Osterloh, vice-presidente sênior, admitiu que o programa de demissão voluntária pode servir a quem “tem dificuldades com o esquema híbrido” — uma confissão indireta de que o modelo não é universalmente benéfico.
A estratégia da empresa reflete uma tendência perigosa: priorizar ganhos de curto prazo em detrimento do bem-estar coletivo. Big techs têm usado a IA como justificativa para retrocessos, mas não há dados concretos que liguem o presencial a mais inovação.
A Google já foi uma empresa que tinha como marca a implantação de benefícios corporativos, mas agora normaliza a imposição do presencial, abrindo precedente para outras empresas seguirem o mesmo caminho. Com a volta ao escritório, a saúde mental e a autonomia dos trabalhadores são sacrificadas em nome de uma produtividade questionável — e de custos que, ironicamente, incluem o turnover de talentos insatisfeitos. Como resume um funcionário remoto que recebeu o ultimato: “Isso não é sobre inovação. É sobre controle.”
(Com informações de CNBC)
(Foto: Reprodução/Freepik/DC Studio)
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