Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação

‘Home office é uma realidade da TI no Brasil’, diz presidente da Fenati

‘Home office é uma realidade da TI no Brasil’, diz presidente da Fenati

Em entrevista ao jornal O Dia, Emerson Morresi afirma que modelo remoto e híbrido são preferências entre profissionais de Tecnologia da Informação

Home office – A consolidação do trabalho remoto no Brasil, que já envolvia cerca de 8,3 milhões de pessoas em 2023 segundo o IBGE, tem reconfigurado não apenas o dia a dia corporativo, mas também as aspirações e a atuação dos profissionais no mercado. Esse crescimento, impulsionado no período pós-pandemia, tem ampliado o debate sobre estabilidade, direitos e, sobretudo, o futuro desse modelo.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que a modalidade poderia ser adotada em 22,7% dos empregos no país, alcançando mais de 20 milhões de pessoas, um potencial que sinaliza uma transformação duradoura.

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De acordo com o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação (Fenati), Emerson Morresi, o trabalho híbrido e remoto tem ganhado popularidade não apenas pelo ganho na qualidade de vida do trabalhador, mas porque amplia as possibilidades de atuação dos profissionais do setor.

“Nós vemos o trabalho remoto e o híbrido como uma realidade da TI no Brasil e defendemos que a adoção seja negociada e regrada. É um avanço importante para os trabalhadores, que agora não têm mais fronteiras para atuar. O tempo perdido no trânsito das grandes cidades virou tempo com a família e amigos, para estudar e até descansar, o que contribui para a saúde e o bem-estar. Uma pesquisa recente da Fenati mostra que 95% dos profissionais da área preferem o home office”, afirmou Morresi em entrevista ao jornal O Dia.

Na avaliação de Morresi, o modelo deve seguir em expansão no país, acompanhando as transformações do mercado de trabalho. “O desenho que vemos é de consolidação do híbrido com forte espaço para o remoto – inclusive com mais vagas anunciadas como home office. Em concursos e seleções públicas de TI, o remoto também aparece como possibilidade. Ou seja: a tendência não é ‘voltar ao passado’, e sim estabilizar modelos flexíveis negociados”, diz.

Preferência pelo home office

A preferência pelo modelo, destacada por Morresi, é um sentimento compartilhado por muitos profissionais, como mostra um levantamento da consultoria Michael Page no qual 92% das pessoas apontam preferência pelo modelo remoto ou híbrido. O consultor de Tecnologia da Informação Luciano da Silva Nascimento, de 32 anos, conta que começou a trabalhar no regime home office na pandemia e já está há cinco anos e meio nesse modelo.

“Inicialmente, trabalharia no modelo remoto temporariamente até que passei para uma vaga 100% home office. Ele tem me propiciado maior qualidade de vida, além de crescimento profissional e salarial. Tenho tido oportunidades que não teria no presencial, como atuar juntamente com times de outros estados e até mesmo de outros países”, afirma.

Morador de Niterói, ele afirma que não sente falta de trabalhar presencialmente. “Não vejo mais sentido em ir presencial só para mostrar que estou ali. Eu sou bem mais eficiente no home office. Pensando nisso, tenho concorrido para vagas no exterior, 100% remotas e pagando em dólar. Meu presente e futuro é trabalhar de casa e investir tempo e energia no que é mais importante para mim.”

Um levantamento do PageGroup, conglomerado global de consultorias de recrutamento, realizado em 2023, mostrou que 75% dos brasileiros possuem preferência pelo híbrido. Fabiana Carvalho da Silva, de 49 anos, residente de São Gonçalo, atua nesse regime há sete meses como faturista e afirma que o modelo tem sido muito benéfico para sua rotina.

“Trabalho dois dias presencialmente e três em casa. Quando estou remotamente, não perco tempo com deslocamento e, ao final do expediente, já estou dentro da minha residência. Além de ter a flexibilidade de poder trabalhar em qualquer local onde tenha Internet. O modelo ainda me ajuda a cuidar da minha mãe, que tem câncer, e acompanhar o tratamento dela de perto”, conta Fabiana. “No meu caso, o modelo híbrido só me traz benefícios, uma vez que não tenho filhos pequenos e disponho de um lugar tranquilo para trabalhar. Quero manter o híbrido ou, se possível, até mesmo ficar no 100% home office”, completa.

O engenheiro de software Tiago Cordeiro, de 36 anos, conta que trabalha 100% remotamente e com horários totalmente flexíveis, o que melhorou consideravelmente sua qualidade de vida. “Na empresa, temos o princípio de trabalho remoto assíncrono, no qual há flexibilidade de horário. Posso acordar bem mais tarde do que se fosse necessário ir presencialmente, mas prefiro levantar cedo para ir à academia e depois começar as atividades. Consigo fazer minhas refeições em casa e, após o almoço, posso descansar, ver TV, deitar e brincar com meus cachorros. Com certeza, prefiro o home office”, diz.

No entanto, um levantamento da Conquer Business School revelou que 77% dos profissionais que atuam remotamente acabam fazendo horas extras por dificuldades em gerenciar o tempo, um desafio que também aparece no relato de Tiago. “O principal desafio é saber separar o tempo de trabalho e o pessoal. Isso parece bobeira, mas às vezes você acaba trabalhando até mais. Já aconteceu de terminar o expediente, ter algum insight sobre um problema que precisava resolver e acabei voltando para o computador”, conta o engenheiro.

Gestão, fiscalização e direitos

A gestão de equipes remotas traz inúmeros benefícios, mas também apresenta desafios únicos, como explica o diretor de Recursos Humanos da empresa de tecnologia Everymind, Eduardo Nunes. “O desafio mais significativo é a manutenção da comunicação e da colaboração. A falta de contato físico pode impactar o diálogo informal, vital para a coesão da equipe e para a rápida resolução de problemas. Para contornar isso, incentivamos reuniões regulares (síncronas e assíncronas) e promovemos canais abertos para feedback e troca de ideias, além de uma liderança próxima, com escuta ativa”, explica o diretor.

Nunes destaca que a companhia, desde a sua fundação, já atuava em formato híbrido e que atualmente 95% dos mais de 500 colaboradores podem exercer suas funções de qualquer lugar. “Nossa política de trabalho remoto foi construída sobre a premissa de que confiamos em nossos colaboradores para gerenciar suas responsabilidades e entregar resultados, independentemente de onde estejam. Essa confiança mútua é a base que sustenta todo o nosso modelo”, explica.

No Brasil, o trabalho remoto é regulamentado por normas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) introduzidas em 2017 pela reforma trabalhista. A advogada Cyntia Sussekind Rocha explica que a legislação garante a esses empregados os mesmos direitos e deveres dos que atuam presencialmente, prevendo que casos específicos sejam acordados no contrato de trabalho.

“A reforma trabalhista trouxe maior independência em relação ao contrato. As partes devem definir quem irá realizar o custeio das despesas e equipamentos. Ressalvando a Legislação, caso o empregador forneça algum valor extra, esse não integra a remuneração do empregado, tendo caráter meramente indenizatório, de reembolso”, afirma Cyntia.

De acordo com levantamento da Glassdoor, o uso de ferramentas de supervisão remota cresceu 216% nos últimos quatro anos, levantando debates sobre ética e privacidade. Segundo Cyntia a vigilância geralmente ocorre em dispositivos específicos das empresas.

“Dessa maneira, não invade a privacidade de seus empregados. De toda forma, pode ser realizado um sistema de ‘controle de jornada’ diverso, como, por exemplo, o envio de uma mensagem ao superior no início e ao final do trabalho, bem como a exigência de relatórios detalhados de atividades”, esclarece Cyntia.

Com o crescimento do trabalho remoto, a fiscalização das condições laborais se tornou um desafio ainda maior. O auditor fiscal Nei Costa explica que a fiscalização se tornou mais complicada com o home office.

“Temos a prerrogativa de ir no local de trabalho do funcionário, na casa dele. No entanto, é necessário que o empregado autorize a entrada. Durante essa inspeção, verificamos as condições de trabalho e ajustamos as características essenciais para o bom desempenho do funcionário, como um ambiente ergonomicamente adequado”, afirma.

Costa explica, porém, que a fiscalização só ocorre quando há denúncias. “Os funcionários só costumam demandar quando o nível de incômodo fica muito grande. Muitos se sentem inseguros, especialmente quando a fiscalização precisa ocorrer dentro de suas residências. Ficam receosos que a empresa descubra que a análise aconteceu em seu posto de trabalho, com medo de retaliações.”

Cuidados jurídicos

Para garantir que o trabalho remoto seja seguro tanto para empregados quanto para empregadores, a advogada trabalhista Carolina Tupinambá destaca os principais cuidados que devem ser adotados por ambas as partes.

“Para os trabalhadores, é essencial manter o autocontrole da jornada, protegendo a saúde mental, já que é comum ultrapassar o horário sem perceber. Também é importante adotar medidas relacionadas ao ambiente doméstico, como garantir a privacidade e o isolamento adequado para cumprimento das atividades”, explica Tupinambá.

O home office e o modelo híbrido, apesar dos desafios como gestão de tempo e monitoramento das atividades, mostram-se cada vez mais consolidados no país. Com direitos assegurados pela legislação e atenção às responsabilidades dos empregadores e empregados, o formato pode trazer ganhos em qualidade de vida, além de aumentar a produtividade e a flexibilidade. Para que esses benefícios se concretizem, é essencial que o modelo seja bem estruturado e baseado no diálogo entre as partes, como destacou a advogada.

(Com informações do jornal O Dia)
(Foto: Divulgação/Fenati)

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