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IA avança pouco no setor cultural do Brasil, mas digitalização segue em alta

IA avança pouco no setor cultural do Brasil, mas digitalização segue em alta

Levantamento indica uso limitado de IA, mas consolidação da conectividade e recursos digitais nos equipamentos culturais

Setor cultural – O uso de Inteligência Artificial (IA) em instituições culturais brasileiras permanece restrito. Segundo a pesquisa TIC Cultura 2024, divulgada nesta terça-feira (7) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), apenas arquivos (20%) e cinemas (16%) registram taxas de adoção acima de 10%. Em outros tipos de equipamentos, os índices caem para 9% em pontos de cultura, 4% em bens tombados, museus e teatros, e 2% em bibliotecas.

Apesar da baixa presença da IA, o estudo revela um cenário de modernização: a digitalização do setor cultural avança, com conectividade quase universal e melhor infraestrutura tecnológica entre as instituições analisadas.

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Conectividade e infraestrutura digital

Realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), a pesquisa entrevistou gestores de sete tipos de equipamentos culturais – entre eles arquivos, museus, teatros e pontos de cultura.

“Por um lado, o estudo mostra que uma adoção mais estratégica de aplicações baseadas em IA ainda é restrita no setor, por outro lado, os dados demonstram uma maturidade crescente dos equipamentos culturais brasileiros na incorporação das tecnologias digitais, apoiada pela universalização da conectividade e pelo maior uso de dispositivos próprios”, observa Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.

Os resultados indicam que o acesso à Internet é praticamente total em arquivos e cinemas (100%), e muito elevado em pontos de cultura (96%). Entre bens tombados, a proporção de conectividade passou de 74% em 2022 para 92% em 2024. Ainda assim, museus (87%) e bibliotecas (83%) apresentam índices menores.

O estudo também aponta expansão na infraestrutura tecnológica. Houve aumento no número de dispositivos próprios, como tablets em arquivos (de 14% para 32%) e em teatros (de 17% para 27%), notebooks em bens tombados (de 36% para 65%) e celulares em pontos de cultura (de 28% para 39%).

O acesso gratuito via Wi-Fi ao público cresceu em diversos equipamentos: de 54% para 65% nas bibliotecas, de 53% para 64% nos pontos de cultura e de 40% para 51% nos museus. Já a oferta de computadores públicos permaneceu estável, com destaque para arquivos (55%) e bibliotecas (41%).

“Os equipamentos culturais brasileiros têm percebido que a conectividade e as tecnologias digitais se tornaram essenciais para suas atividades. O uso da Internet já é praticamente universal nesses equipamentos, com exceção de bibliotecas e museus, cuja presença ainda tem espaço para crescer. A pesquisa também revela um papel central desses equipamentos para a inclusão digital, dada capilaridade de sua atuação em todo o território nacional”, destaca Barbosa.

Cultura nas redes e nos aplicativos

A presença digital das instituições culturais também cresceu. Plataformas como Instagram, TikTok e Flickr são usadas por 87% dos pontos de cultura (eram 73% em 2022) e por 78% dos bens tombados (ante 50% em 2022).

O uso de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, também avançou: de 62% para 72% entre pontos de cultura, e com aumentos expressivos entre museus (de 24% para 37%), teatros (de 24% para 35%) e bibliotecas (de 12% para 25%).

Por outro lado, ferramentas de transmissão ao vivo perderam espaço após o período de pandemia. A proporção de teatros que mantêm streaming em seus sites caiu de 25% em 2022 para 16% em 2024, e entre cinemas, de 20% para 12%.

Formação e capacitação profissional

Os dados da TIC Cultura 2024 mostram que as instituições culturais priorizam capacitação interna sobre tecnologias digitais e privacidade, em detrimento de cursos externos pagos.

Os arquivos se destacam nesse aspecto: 50% deles promovem treinamentos internos em tecnologia digital e 51% em privacidade e proteção de dados. Em contrapartida, apenas 24% financiam cursos externos de tecnologia e 23%, de privacidade. Entre os museus, somente 6% ofereceram cursos externos de tecnologia e 7% de privacidade. As bibliotecas têm índices ainda mais baixos — 4% e 5%, respectivamente.

“A quinta edição da TIC Cultura evidencia um setor cultural com uma infraestrutura tecnológica mais robusta, marcada pelo maior uso de dispositivos próprios e presença na Internet, um legado importante do esforço de adaptação à pandemia e que pode estar associado ao contexto da ampliação de políticas de fomento no período. Ao mesmo tempo, os dados sobre formação mostram que a capacitação de equipes é um gargalo importante para que a tecnologia seja, de fato, uma aliada”, ressalta Renata Mielli, coordenadora do CGI.br.

A pesquisa e sua importância

Criada em 2016, a TIC Cultura busca compreender o uso das tecnologias de informação e comunicação nos equipamentos culturais brasileiros, tanto na gestão interna quanto na interação com o público. Seus indicadores servem de referência para políticas públicas de cultura, além de orientar estratégias de democratização do acesso e inovação no setor.

Na edição de 2024, o levantamento realizou 1.818 entrevistas com gestores de arquivos, bens tombados, bibliotecas, cinemas, museus, pontos de cultura e teatros de todo o país, entre outubro de 2024 e abril de 2025.

A pesquisa conta com apoio institucional da UNESCO e de um grupo de especialistas de diferentes áreas do governo, da sociedade civil e da academia.

(Com informações de TiInside)
(Foto: Reprodução/Freepik)

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