Reatores nucleares – Estima-se que desenvolvedores de reatores nucleares modulares pequenos (SMRs, na sigla em inglês) arrecadaram cerca de 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,5 bilhões na cotação atual) em financiamento no último ano. Tais valores se dão dentro do contexto em que há aumento de investidores interessados devido a acordos de fornecimento de energia com grandes empresas de tecnologia.
Também houve a promessa de bilhões de dólares em apoios governamentais em meio a corrida mundial para desenvolver tecnologias essenciais ao fortalecimento de inteligências artificiais.
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A X-energy protagonizou a maior captação de recursos neste mês, com os valores de US$ 700 milhões. Trata-se de uma empresa estadunidense que adicionou a Jane Street e outros investidores institucionais a um registro que incluía Amazon, Ken Griffin, fundador e CEO da Citadel, e a empresa química Dow.
Já a parisiense Newcleo, arrecadou US$ 151 milhões em setembro. Outras empresas dos EUA Blue Energy e Last Energy arrecadaram US$ 45 milhões e US$ 40 milhões, respectivamente, no ano passado.
Arrecadando US$ 134 milhões em 2024, a desenvolvedora de microrreatores Nano Nuclera Energy, abriu o capital em maio.
A empresa, juntamente com outras duas desenvolvedoras de reatores nucleares modulares listadas em Nova York – Oklo e NuScale – arrecadaram mais US$ 700 milhões com vendas de ações e outros mecanismos de financiamento nos últimos 12 meses. Os dados estão de acordo com uma análise da Financial Times de registros públicos e dados da PitchBook e BloombergNEF.
60 projetos de reatores
Cerca de 60 projetos de reatores nucleares modulares em todo mundo estão recebendo investimentos de empresas como Westinghouse, Rolls-Royce, Holtec International, GE Hitachi e a TerraPower de Bill Gates, conforme apontam informações divulgadas pela World Nuclear Association.
Após deterioração de um mercado de financiamento em 2023 devido às altas taxas de juros e à inflação, o mercado foi abalado em outubro. Isso se deve a compra de uma participação na X-energy pela Amazon e a assinatura de um acordo de fornecimento de energia pela Google com a desenvolvedora de reatores nucleares modulares Kairos Power.
Já a Oklo e a NuScale tiveram um aumentou nos preços das ações impulsionado pela melhora no sentimento dos investidores. Combinados, os valores de mercado aumentaram em quase US$ 8 bilhões após os acordos.
Alguns investimentos de capital de risco em estágios iniciais foram incentivados por isso. Consequentemente mais opções para os desenvolvedores de reatores nucleares modulares.
A empresa que projeta reatores para a indústria naval Core Power, sediada no Reino Unido, afirmou ao Financial Times que a finalização de uma rodada de captação de recursos de US$ 500 milhões com investidores estratégicos.
Já a Holtec Internacional, disse que está explorando opções de financiamento. Ela faz parte de um grupo com quatro empresas pré-selecionadas em uma competição do governo do Reino Unido.
De acordo com o CEP da X-energy, Clay Sell “houve uma mudança dramática nos mercados de capitais para empresas como a nossa”. Ele acrescentou que os acordos recentes demonstraram como a indústria de tecnologia entende o papel da energia nuclear como uma opção energética limpa e confiável.
Nos Estados Unidos, a crescente demanda por energia causada em parte pelo lançamento de diversos centros de dados de IA, tem levado ao financiamento de parte dos custos necessários para implantação de energia nuclear.
A Microsoft, por exemplo, assinou um acordo com a Constellation Energy no último ano. Os termos visam reabrir a usina nuclear em Three Mike Island na Pensilvânia e ressaltam o seu valor como fonte de energia sem emissões e que não prejudicaria metas climáticas.
Reatores modulares em alta
Há, porém, poucas usinas nuclearas em que a reiniciação é possível nos Estados Unidos. Já a construções de novos reatores padrão é considerada arriscada devido a um recente histórico de estouros de orçamento e atrasos prolongados.
Dessa forma, os reatores nucleares modulares estão atraindo os olhares da indústria de tecnologia. Eles têm capacidade de energia de 300 MW e cerca de um terço do tamanho das instalações padrão.
Presidida por Sam Altman da OpenAI, a Oklo assinou um acordo não vinculativo com a Switch Inc, uma grande operadora de centros de dados privados. O motivo é a construção de reatores com capacidade total de 12 gigawatts. Capaz de fornecer energia às 7,6 milhões de residências no estado de Nova York.
Já a Meta está avaliando propostas de desenvolvedores de reatores modulares. A ideia é a formulação de um contrato para fornecer até 4 gigawatts de capacidade, que apoiará o lançamento de seus centros de dados no início dos anos 2030.
Ainda assim, existem diversos riscos técnicos, regulatórios e até de financiamento, conforme pontuaram analistas.
Apesar da melhora na confiança, a NuScale é a única desenvolvedora de reatores nucleares modulares com um projeto aprovado pela Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (NRC, na sigla em inglês).
Outras empresas apresentaram seus pedidos de licença de construção à NRC. A TerraPower, por exemplo, fez isso no ano passado e iniciou os trabalhos de construção em um terreno no Wyoming. A maioria das empresas, porém, ainda não iniciou o processo.
Investimento do Estado
Já das empresas de tecnologia, os desenvolvedores querem a finalização de dezenas de acordos que lhes forneçam certeza financeira.
Marc Bianchi, analista do banco de investimento TD Cowen afirmou que “para ver mais projetos de reatores nucleares modulares anunciados e avançando, precisamos ver acordos vinculativos, em vez de memorandos”.
De um modo geral, os investidores afirmam que o financiamento governamental é fundamental aos desenvolvedores. Isso se deve ao alto risco associado a uma tecnologia inédita, assim como o histórico de atrasos e estouros de orçamento que tem prejudicado projetos nucleares.
“Precisamos ter dólares federais. Não posso enfatizar o suficiente”, disse Caroline Golin, chefe de desenvolvimento de mercado de energia do Google, em uma conferência do Instituto de Energia Nuclear em Nova York na semana passada.
Durante o governo de Joe Biden houve promessas de bilhões de dólares em subsídios para x-energy, TerraPower e outros desenvolvedores, o que impulsionou a indústria. Também ocorreu o oferecimento de créditos fiscais de produção de até 50% para apoiar a implantação de SMRs na Lei de Redução da Inflação.
Donald Trump, porém, visando revogar a medida, congelou bilhões de dólares em empréstimos destinados ao setor de energia limpa, o que levantou preocupações na indústria de financiamento.
A esperança está em Chris Wright, novo secretário do Departamento de Energia e que fez parte do conselho de Oklo. Além disso, o Partido Republicano é um defensor histórico da energia nuclear.
“Permanecemos confiantes”, disse Sell da X-energy. “O presidente falou extensivamente sobre o papel que a energia nuclear deve desempenhar nessa estratégia de dominação energética, o que apoiamos fortemente.”
(Com informações de Folha de S. Paulo/Financial Times)
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