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Hacker – Depois de anos como um dos nomes mais temidos do cibercrime, Tank, identidade usada por Vyacheslav Penchukov, falou pela primeira vez sobre sua passagem por algumas das maiores quadrilhas digitais da história. O encontro ocorreu em uma prisão de segurança mínima no Colorado, onde o ucraniano cumpre duas sentenças de nove anos.
Carismático e irreverente, ele chega à sala de entrevistas com o mesmo espírito brincalhão que teria ajudado a construir sua reputação no submundo. Treinado nas ruas de Donetsk, Penchukov afirma que a habilidade social o levou mais longe que qualquer conhecimento técnico.
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Durante quase dez anos, seu nome figurou entre os mais procurados pelo FBI. À frente de duas organizações distintas, ele esteve envolvido em roubos milionários, ataques a empresas internacionais e operações que paralisaram instituições essenciais, como hospitais.
Prisão cinematográfica
No fim dos anos 2000, Tank despontou como figura-chave do grupo Jabber Zeus, responsável por esvaziar contas bancárias de pequenas empresas, prefeituras e entidades beneficentes. Só no Reino Unido, mais de 600 instituições foram afetadas, acumulando prejuízos superiores a 4 milhões de libras em apenas três meses.
Anos depois, entre 2018 e 2022, ele migraria para o lucrativo mercado de ransomware, mirando corporações internacionais e até um hospital nos Estados Unidos.
A captura de Penchukov em 2022 lembra cenas de filmes: franco-atiradores posicionados, abordagem no meio da rua e algemas colocadas na frente dos filhos. Ele critica o modo como foi detido, enquanto seus milhares de alvos – que perderam dezenas de milhões – certamente veem a cena sob outra perspectiva.
Vida atrás das grades – e o passado que não o abandona
Mesmo preso, Penchukov mantém uma rotina ativa: estuda línguas, pratica esportes e acumula certificados educacionais. Ainda assim, sua história o persegue. O ponto de partida foi a juventude em fóruns de trapaças de jogos, onde conheceu futuros comparsas. Ali nasceu o Jabber Zeus, batizado em referência ao malware Zeus e ao mensageiro usado pelo grupo.
Era, segundo ele, uma época de dinheiro fácil. Os bancos não estavam preparados, e a polícia internacional não conseguia acompanhar. No auge, ele trabalhava em jornadas curtas, gerenciando ataques durante o dia e tocando como DJ Slava Rich à noite. Comprava carros de luxo com a mesma frequência com que outros trocam de roupa.
Mas isso desmoronou quando autoridades passaram a monitorar conversas internas e identificaram sua filha em relatos pessoais. A operação Trident Breach, coordenada pelo FBI, prendeu suspeitos na Ucrânia e no Reino Unido — exceto Tank, que fugiu acelerando um Audi S8 com motor Lamborghini.
Por um período, tentou viver legalmente, abrindo uma empresa de comércio de carvão. Mas, exposto como alvo do FBI e alvo de extorsões de funcionários públicos, viu seus negócios ruírem após a anexação da Crimeia pela Rússia. Bombardeios atingiram até o quarto da filha.
Sem alternativas, diz ter voltado ao cibercrime para manter a empresa funcionando. A segunda fase da carreira acompanhou a transformação do crime digital: do furto direto de contas bancárias à era do ransomware, que interrompe serviços e exige resgates milionários.
Nos fóruns, notícias de supostos pagamentos de 20 milhões de dólares por parte de um hospital americano acenderam uma corrida de ataques a instituições médicas. Penchukov descreve essas comunidades como movidas por mentalidade de rebanho, indiferentes ao impacto humano.
Reconstruída sua reputação, ele se tornou afiliado de redes como Maze, Egregor e Conti. Afirma que muitos desses grupos mantinham contatos com serviços de segurança russos.
No auge, liderou equipes do IcedID, responsável por infectar mais de 150 mil computadores. Entre as vítimas, estava o University of Vermont Medical Center, nos EUA, que ficou duas semanas sem serviços essenciais e perdeu mais de 30 milhões de dólares. Ele nega ter participado do ataque, alegando que admitiu envolvimento apenas para reduzir a pena.
Arrependimentos seletivos
Penchekov mudou o sobrenome para Andreev e considera a pena exagerada. Além da prisão, terá de devolver 54 milhões de dólares.
Ao longo da entrevista, remorso aparece apenas ao mencionar um ataque a uma instituição de caridade voltada a crianças com deficiência. No restante, admite que pouco pensava nas vítimas – e ainda pensa pouco.
Uma delas, uma pequena loja de malas no Novo México, perdeu 12 mil dólares em um único golpe, valor suficiente para comprometer o pagamento de aluguel, fornecedores e funcionários. A dona, Leslee, recorda o impacto com tristeza e indignação.
Para Tank, o maior erro foi confiar demais. Ele afirma que, no submundo hacker, amizades duram até o momento em que alguém é preso. Paranoia é rotina, e o sucesso sempre cobra um preço.
Seu afastamento do antigo parceiro Maksim Yakubets – apontado como líder do Evil Corp e alvo de recompensa de 5 milhões de dólares – reforça como a rede se fragmentou. Enquanto Penchukov cumpre pena, Yakubets permanece foragido, blindado pela dificuldade de captura fora do Ocidente.
(Com informações de g1)
(Foto: Reprodução/Freepik)
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