Semana de quatro dias – O primeiro piloto brasileiro da 4 Day Week, organização que orienta empresas na implementação da semana de quatro dias de trabalho, chegou ao fim, com evento de encerramento realizado na última quarta-feira (14). E os resultados foram considerados excelentes pelos organizadores.
“Todas as nossas expectativas com o projeto se realizaram”, avaliou Paul Ferreira, pesquisador da FGV, durante a cerimônia de encerramento do projeto. Na ocasião, organizadores do projeto e representantes das organizações que participaram do piloto discutiram a experiência e apresentaram os resultados do experimento.
A 4 Day Week seguirá monitorando alguns dos participantes nos próximos meses, mas já abriu as inscrições para uma segunda temporada do projeto, que deve começar em janeiro e terminar em julho de 2025.
“Nós vimos uma diferença muito maior na saúde mental dos profissionais no Brasil [do início ao fim do piloto] do que em outros países”, afirma Gabriela Brasil, diretora de comunicação da instituição.
No país, 87% dos participantes afirmam que o fim de semana estendido rendeu mais energia para realizar as tarefas do escritório, enquanto 73% relataram que o sentimento de exaustão decorrente do trabalho diminuiu. Além disso, 71% sentiram mais energia para estar com família e amigos no tempo livre.
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Manutenção da semana de quatro dias
Todas as empresas participantes afirmam que pretendem manter a semana de quatro dias. 46,2% delas vão aderir ao formato de modo permanente; 38,5% delas farão adaptações; e 15,4% vão estender o piloto para incluir mais equipes no esquema, por exemplo.
A 4 Day Week já realizou estudos semelhantes em países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, 252 pessoas de 21 empresas participaram do projeto. Destas, 19 chegaram ao fim, visto que uma companhia do Rio Grande do Sul interrompeu a experiência por conta das enchentes no estado, enquanto outra suspendeu sua participação após ocorrer uma troca na diretoria da companhia durante o período.
Entre os participantes, há empresas de tamanhos e rotinas variados. A Inspira, por exemplo, pequena empresa de tecnologia que atende o setor jurídico, sempre adotou o modelo remoto e teve reuniões semanais. Por isso, foi mais fácil implementar a semana de quatro dias. “Agora, o que vemos são mais colaboradores motivados e menos colaboradores doentes”, conta Carolina Grimadi, líder de produto e UX design da empresa.
Já a editora Mol Impacto, que também é um negócio relativamente pequeno, sentiu dificuldade de encurtar a semana, mas conseguiu. “Por orientação da 4 Day Week, começamos [o piloto] com a nossa equipe mais atribulada, que mais interage com clientes e depende de agendas externas”, explicou a CEO da editora, Roberta Faria. “Hoje, é a nossa equipe mais produtiva e organizada”, comemora.
A CEO afirma que a Mol alcançou um nível maior de satisfação com o trabalho e acrescenta que a principal motivação da empresa para implementar a semana de quatro dias não foi a retenção de talentos, mas sim a melhoria na qualidade de vida dos profissionais. No entanto, reconheceu que esse acaba sendo um diferencial na hora de “competir com o CLT premium [o pacote generoso de benefícios corporativos] de grandes corporações”.
Repensando o expediente
Diretora da Reconnect e responsável pela iniciativa no Brasil, Renata Rivetti defendeu durante o evento de encerramento que a semana de quatro dias é, na verdade, um projeto de aumento de produtividade. “Ele tem muito mais a ver com aprimorar processos e aproveitar melhor o tempo”, afirma a executiva, “do que com transformar a quinta-feira na nova sexta”.
Durante a fase de preparação e planejamento do piloto, entre setembro e dezembro de 2023, Renata e outros especialistas promoveram workshops e mentorias às empresas participantes, para que elas soubessem como reorganizar o fluxo de trabalho e eliminar gargalos a fim de reduzir a carga horária dos colaboradores e focar nas entregas.
As empresas reduziram, por exemplo, a quantidade e duração de reuniões internas e externas, tornando os encontros mais objetivos. Também definiram com maior precisão as atividades de cada um no escritório, reduziram o microgerenciamento e tentaram melhorar a comunicação dos gestores com seus colaboradores. Além disso, passaram a priorizar certas tarefas em detrimento de outras.
A maioria das empresas participantes conseguiu estabelecer um dia de folga em todas as semanas do piloto, enquanto outras ofereceram folgas quinzenais ou mensais. Em média, a carga horária diminuiu para todos: passou de 42,8 horas semanais para 36,5. O resultado mostra que as participantes conseguiram, de fato, aproveitar melhor o expediente, e que os quatro dias úteis não ficaram mais longos para compensar a folga.
“Para que a semana de quatro dias funcione bem, cada um de nós precisa rever a maneira com que trabalha. Isso significa mudar rotinas e hábitos bem consolidados, não é fácil.”, acrescenta Paul Ferreira, lembrando que a transição para que esse modelo leva tempo e que é normal que haja resistência por parte de alguns empresários, acostumados ao modelo consolidado.
Resultados do piloto
O lado dos profissionais
– 86% dos participantes afirmam que estão enxergando mais propósito no trabalho;
– 80% notaram melhorias na própria criatividade e capacidade de inovação;
– 71,5% perceberam que a produtividade aumentou significativamente;
– 65,5% afirmam que o comprometimento com a empresa aumentou;
– 60% perceberam que o engajamento no trabalho melhorou;
– 56% afirmam que estão executando projetos de maneira mais satisfatória.
O lado da empresa
– 84% dos executivos acreditam que o piloto foi benéfico para a empresa;
– 83% perceberam melhorias nos processos internos;
– 75% notaram equipes funcionando melhor;
– 63,6% acreditam que a empresa ganhou mais visibilidade com o piloto;
– 63,6% das empresas afirmam que tiveram mais lucro em 2024 (mas a melhoria não pode ser atribuída exclusivamente à semana de quatro dias).
(Com informações de VocêRH)
(Foto: Reprodução)
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