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Semana de 4 dias melhora saúde e desempenho de trabalhadores, aponta estudo

Semana de 4 dias melhora saúde e desempenho de trabalhadores, aponta estudo

Pesquisa com quase 3 mil trabalhadores mostra avanços no bem-estar e satisfação sem perda salarial

Semana de 4 dias – Trabalhar quatro dias por semana, com três dias de folga e sem redução salarial, pode trazer melhorias significativas para a saúde e o desempenho dos funcionários. É o que revela uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (22) na revista científica Nature Human Behaviour.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Boston College, nos Estados Unidos, e acompanhou 2.896 funcionários de 141 organizações localizadas em seis países: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Irlanda, Nova Zelândia e Reino Unido.

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Ao longo de seis meses, os pesquisadores analisaram os efeitos da redução da jornada sobre a saúde física e mental dos trabalhadores, comparando os resultados com os de outras 12 empresas que mantiveram a tradicional semana de cinco dias.

Entre os indicadores observados, o levantamento apontou melhorias nos níveis de burnout, redução da fadiga, melhor qualidade do sono e aumento da satisfação profissional entre os que adotaram a semana reduzida. Os salários foram mantidos integralmente, mesmo com a diminuição dos dias trabalhados.

O estudo também identificou impactos positivos no recrutamento e retenção de talentos. Uma das empresas analisadas, que antes enfrentava dificuldades para atrair novos profissionais, relatou melhorias após a adoção da nova jornada.

Segundo os autores da pesquisa, isso se deve ao fato de que a semana de quatro dias é altamente valorizada por quem está em busca de trabalho. Alguns participantes afirmaram que “nem mesmo um aumento salarial os faria voltar à semana de cinco dias”.

De acordo com o relatório, 90% das empresas envolvidas na experiência decidiram manter o modelo após o término do estudo.

Apesar dos resultados positivos, os autores reconhecem limitações. Eles destacam que a maior parte das empresas participantes já promovia iniciativas voltadas ao bem-estar dos funcionários, o que pode ter “inflado” os efeitos positivos. Além disso, ressaltam que os benefícios físicos mais duradouros exigem acompanhamento em longo prazo.

Modelo foi testado no Brasil

O primeiro piloto brasileiro da 4 Day Week, organização que orienta empresas na implementação da semana de quatro dias de trabalho, chegou ao fim em agosto de 2024. E os resultados foram considerados excelentes pelos organizadores.

“Todas as nossas expectativas com o projeto se realizaram”, avaliou Paul Ferreira, pesquisador da FGV. Na ocasião, organizadores do projeto e representantes das organizações que participaram do piloto discutiram a experiência e apresentaram os resultados do experimento.

A 4 Day Week seguirá monitorando alguns dos participantes nos próximos meses, mas já abriu as inscrições para uma segunda temporada do projeto, que deve começar em janeiro e terminar neste mês de julho de 2025.

“Nós vimos uma diferença muito maior na saúde mental dos profissionais no Brasil [do início ao fim do piloto] do que em outros países”, afirma Gabriela Brasil, diretora de comunicação da instituição.

No país, 87% dos participantes afirmam que o fim de semana estendido rendeu mais energia para realizar as tarefas do escritório, enquanto 73% relataram que o sentimento de exaustão decorrente do trabalho diminuiu. Além disso, 71% sentiram mais energia para estar com família e amigos no tempo livre.

Manutenção da semana de 4 dias

Todas as empresas participantes afirmam que pretendem manter a semana de quatro dias. 46,2% delas vão aderir ao formato de modo permanente; 38,5% delas farão adaptações; e 15,4% vão estender o piloto para incluir mais equipes no esquema, por exemplo.

Diretora da Reconnect e responsável pela iniciativa no Brasil, Renata Rivetti defende durante o evento de encerramento que a semana de quatro dias é, na verdade, um projeto de aumento de produtividade. “Ele tem muito mais a ver com aprimorar processos e aproveitar melhor o tempo”, afirma a executiva, “do que com transformar a quinta-feira na nova sexta”.
Em agosto de 2023, Rivetti deu uma palestra na sede do Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo), em São Paulo, e descreveu o projeto e a necessidade de transformar a realidade do mercado de trabalho brasileiro.

“O modelo atual não gera aumento de produtividade e têm adoecido mentalmente os brasileiros”, defendeu, na ocasião, Renata. O Brasil é o 1º lugar do mundo em transtornos de ansiedade, 2º lugar mundial em casos de Síndrome de Burnout e o 5º em depressão. “Tem pessoas que se sentem culpadas por ter um dia extra. ‘Nossa, não estou trabalhando, será que eu sou produtiva?’. A gente foi criada em uma sociedade que hoje acredita que não pode parar. Isso não é produtivo. Ao contrário, está levando a gente para um esgotamento. Essa é uma realidade”.

Resultados do piloto

O lado dos profissionais
– 86% dos participantes afirmam que estão enxergando mais propósito no trabalho;
– 80% notaram melhorias na própria criatividade e capacidade de inovação;
– 71,5% perceberam que a produtividade aumentou significativamente;
– 65,5% afirmam que o comprometimento com a empresa aumentou;
– 60% perceberam que o engajamento no trabalho melhorou;
– 56% afirmam que estão executando projetos de maneira mais satisfatória.
O lado da empresa
– 84% dos executivos acreditam que o piloto foi benéfico para a empresa;
– 83% perceberam melhorias nos processos internos;
– 75% notaram equipes funcionando melhor;
– 63,6% acreditam que a empresa ganhou mais visibilidade com o piloto;
– 63,6% das empresas afirmam que tiveram mais lucro em 2024 (mas a melhoria não pode ser atribuída exclusivamente à semana de quatro dias).

(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/EyeEm)

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