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Youtube flexibiliza moderação e mantém no ar vídeos de “interesse público” que violam diretrizes

Youtube flexibiliza moderação e mantém no ar vídeos de “interesse público” que violam diretrizes

Nova política interna, revelada pelo The New York Times, tem permitido que conteúdos considerados ofensivos continuem ativos

YouTube – O YouTube passou a adotar diretrizes mais flexíveis para moderação de conteúdo, permitindo a permanência de vídeos que violam suas próprias regras, desde que sejam considerados de “interesse público”. A informação foi revelada por documentos de treinamento internos revisados pelo The New York Times e ainda não foi oficialmente divulgada pela plataforma.

Por anos, o YouTube removeu conteúdos considerados ofensivos, como insultos depreciativos, desinformação sobre vacinas da Covid-19 e mentiras eleitorais. Desde o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, no entanto, a empresa tem incentivado moderadores a manter vídeos no ar mesmo que contrariem suas normas, desde que abordem temas políticos, sociais ou culturais.

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A medida aproxima o YouTube de outras plataformas que também relaxaram suas políticas após pressão do Partido Republicano. Em janeiro, a Meta, dona do Facebook e do Instagram, encerrou seu programa de checagem de fatos. O X (antigo Twitter), por sua vez, já havia transferido a responsabilidade de moderação aos próprios usuários.

Diferente das concorrentes, o YouTube não anunciou publicamente as mudanças. Segundo o The New York Times, os ajustes foram introduzidos discretamente em meados de dezembro por meio de novos materiais de treinamento.

Agora, vídeos considerados de interesse público podem ter até metade do conteúdo em desacordo com as regras, anteriormente, esse limite era de um quarto. Moderadores foram orientados a manter no ar gravações de reuniões públicas, comícios e debates políticos, mesmo que contenham desinformação.

Durante a pandemia, vídeos com esse perfil chegaram a ser removidos por desinformação médica. A nova política pode beneficiar comentaristas políticos e coincidir com o crescimento da plataforma como espaço de distribuição de podcasts.

A mudança também evita críticas de políticos e ativistas insatisfeitos com a remoção de conteúdos ligados à origem da Covid-19, à eleição de 2020 e a Hunter Biden, filho do ex-presidente Joe Biden.

O que diz o YouTube

Em nota, a porta-voz do YouTube, Nicole Bell, afirmou que a plataforma atualiza regularmente suas diretrizes com base nos temas discutidos publicamente.

Segundo Bell, políticas obsoletas são descartadas, como aconteceu em 2023 com parte das diretrizes sobre Covid, enquanto outras são reforçadas quando necessário, como a recente proibição de conteúdos que direcionam usuários a sites de apostas.

Nos primeiros três meses de 2025, o YouTube removeu 192.586 vídeos por conteúdo abusivo e de ódio, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano anterior.

“Reconhecendo que a definição de ‘interesse público’ está sempre evoluindo, atualizamos nossas diretrizes para refletir os novos tipos de discussão que vemos hoje na plataforma”, afirmou. “Nosso objetivo continua sendo o mesmo: proteger a liberdade de expressão no YouTube e, ao mesmo tempo, mitigar danos graves.”

Críticas e impacto

Especialistas alertam que o relaxamento nas políticas pode favorecer a disseminação de informações falsas e o crescimento do discurso de ódio nas redes. Segundo o Center for Countering Digital Hate, uma publicação falsa no X sobre imigrantes ilegais acessando registros eleitorais nos EUA foi visualizada 74,8 milhões de vezes, conteúdo que provavelmente teria sido removido antes das mudanças.

De acordo com Imran Ahmed, diretor do centro, a Meta costumava remover cerca de 277 milhões de conteúdos por ano. Com as novas diretrizes, grande parte desse material pode continuar acessível, incluindo declarações como “negros são mais violentos que brancos”.

“O que estamos vendo é uma corrida para o fundo do poço”, declarou Ahmed. Para ele, as mudanças atendem a interesses econômicos das empresas, que reduzem gastos com moderação e ampliam o volume de conteúdo disponível para engajamento. “Isso não é sobre liberdade de expressão. É sobre publicidade, amplificação e, no fim das contas, lucro.”

Vídeos políticos e sociais ganham exceções

Historicamente, o YouTube moderava com rigor para garantir um ambiente seguro para anunciantes, bloqueando conteúdos com nudez, violência explícita e discurso de ódio, embora mantivesse a prerrogativa de interpretar suas próprias regras.

As novas diretrizes ampliam brechas já existentes. Segundo os documentos analisados pelo The New York Times, mesmo antes das eleições de 2024, o YouTube passou a permitir vídeos de candidatos que violassem diretrizes.

Além disso, vídeos que tratam de temas como eleições, ideologias, movimentos sociais, raça, gênero, sexualidade, aborto, imigração e censura passaram a ser considerados automaticamente de interesse público e, portanto, sujeitos a regras mais flexíveis.

(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/garakta_studio)

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