Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação

Mídia corre para conter queda de tráfego com chegada da IA às buscas

Mídia corre para conter queda de tráfego com chegada da IA às buscas

Ferramenta que exibe resumos prontos no topo dos resultados reduzem visitas a sites e pressionam modelo de negócios

Queda de tráfego – Empresas de comunicação se mobilizam para lidar com o chamado “Google Zero”, termo usado para descrever o declínio acentuado no tráfego gerado pelas buscas após a introdução de recursos de inteligência artificial no buscador.

No fim de julho, a versão mais recente do Modo IA do buscador foi lançada no Reino Unido, após estrear nos Estados Unidos, aumentando a preocupação de editores sobre a aceleração da perda de acessos.

LEIA: Youtube deve colaborar no controle de publicidade infantil, decide Justiça

O recurso exibe respostas completas no topo da página, dispensando o clique nos links originais. A expectativa é que a novidade chegue ao Brasil em breve.

“Como todos, nós definitivamente sentimos o impacto dos AI Overviews. Existe apenas uma direção em curso; não apenas as IAs estão melhorando, mas estão melhorando de forma exponencial”, disse Sean Cornwell, presidente-executivo da Immediate Media.

Queda nas visitas

Segundo estudo publicado em maio pela Enders e pela Professional Publishers Association (PPA), empresas de mídia estavam “perdendo visibilidade e valor, já que seu conteúdo é usado, mas não recompensado”. Quase metade relatou queda de tráfego em 2023.

A pesquisa mostrou que quatro em cada cinco usuários recorriam a “resultados sem clique” em 40% de suas buscas. Levantamentos do Pew Research Center e da Authoritas também confirmaram a tendência de redução de acessos quando havia resumos automáticos na página.

O Google, no entanto, contesta. A empresa afirma que havia “falhas fundamentais” na metodologia e defende que os cliques gerados pelos Overviews são “de maior qualidade”.

Publishers reagem

Nos EUA, a associação Digital Content Next apontou que os publishers premium tiveram uma redução média de 10% no tráfego vindo do Google em maio e junho, comparado ao ano anterior.

Neil Vogel, presidente-executivo da People, afirmou que o “Google Zero” é a “estrela-guia” da estratégia do grupo. “Nosso jornalismo é feito por pessoas, para pessoas, não somos sintetizados, e não somos artificiais”, declarou.

Segundo Vogel, o peso do buscador já havia caído nos últimos anos – de 65% para cerca de 30% das visitas. A People Inc (novo nome da editora) aposta em assinaturas, newsletters e redes sociais para manter a audiência.

Queda atinge diferentes setores

No Reino Unido, a PPA identificou perda de acessos em áreas como estilo de vida e automotivo. Um site especializado em comparações de veículos relatou queda de 25% nos artigos que antes lideravam o ranking das buscas, mesmo com aumento na visibilidade.

“Dado que a ferramenta oferece menos links, acho que isso só pode ser ruim [para os editores]. O Modo IA é apenas uma extensão do problema”, disse um executivo ouvido pela associação.

Jason Kint, da Digital Content Next, resumiu: para os veículos, o cenário significa “menos leitores, menos impressões de anúncios e menos conversões de assinaturas”.

Google nega problema

O Google afirma que, no agregado, não há redução relevante. Em comunicado, a chefe do Google Search, Liz Reid, disse que “embora o tráfego geral para sites esteja relativamente estável, a web é vasta, e as tendências de usuários estão deslocando tráfego de alguns sites para outros”.

A empresa declarou ao Financial Times que segue direcionando “bilhões de cliques todos os dias” e que não há indícios de queda generalizada.

Caminhos para o futuro

Apesar do embate, empresas já projetam uma nova dinâmica. “Está claro que há uma mudança em curso”, disse Piers North, presidente da Reach, dona do Mirror e do Express. O grupo aposta em acessos diretos e diversidade de públicos para reduzir a dependência de qualquer plataforma.

Cornwell, da Immediate Media, também investe em diversificação de receitas, de assinaturas digitais a eventos ao vivo. Ele aposta na valorização de autores como marcas individuais: “Quem tem 35 anos ou menos não segue marcas, mas talentos”.

Relevância

Alguns editores acreditam que nem todos os gêneros de jornalismo serão igualmente afetados. Enquanto conteúdos “perenes”, como guias e dicas, são facilmente resumidos pela IA, reportagens locais e exclusivas tendem a ter menos substituição. “O essencial é gerar tráfego direto”, disse Henry Faure Walker, da Newsquest.

Para Vogel, da People, o segredo está em oferecer relevância: “O mundo não precisa de mais conteúdo medíocre. Temos que produzir material realmente atraente, de modo que os leitores queiram voltar”.

(Com informações de Folha de S.Paulo)
(Foto: Repordução/Freepik/thaspol_s)

Compartilhe:

Outras publicações